O desastre de Mariana, anos depois

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Estuário do Rio Doce (crédito: Xosé L. Otero)
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O rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015 é considerado um dos piores desastres ambientais ocorridos no Brasil. Após o rompimento da barragem, os rejeitos de mineração ricos em óxidos de Fe percorreram aproximadamente 600 km até alcançar o estuário do Rio Doce na cidade de Regência no Estado do Espírito Santo.

Um estudo que acabou de ser publicado na revista Journal of Environmental Management constatou que, dois anos após o desastre, os níveis de fósforo dissolvido em água ultrapassaram em cinco vezes os permitidos pela CONAMA. O estudo integra o doutorado do pesquisador Hermano Melo Queiroz, do programa de pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), que tem a orientação do professor Tiago Osório Ferreira do departamento de Ciência do Solo.

Hermano Queiroz lembra que, durante o percurso através da bacia do Rio Doce, o rejeito cruzou cidades, vilas e fazendas. “O material do rejeito é rico em óxidos de Fe, minerais que têm alta afinidade com fósforo, ou seja, os óxidos de Fe presentes no rejeito carrearam grandes quantidades de fósforo para o estuário”.

Dois anos após a chegada do rejeito, os pesquisadores observaram que as condições biogeoquímicas do estuário favorecem a dissolução dos óxidos de ferro, levando a uma liberação de fósforo na água do estuário. “Nossos resultados indicam que os óxidos de ferro estão funcionando como uma fonte contínua de fósforo no ecossistema estuarino levando a um potencial risco de eutrofização”. A eutrofização é o processo que desencadeia a produção em excesso de algas, o que pode acarretar diminuição da concentração de oxigênio na água e ocasionar a morte de diversos outros organismos, como peixes

O estudo contou com financiamento da FAPESP, FAPES, CAPES e CNPq além da colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal Fluminense e da Universidade de Santigado Compostela da Espanha. Pode ser acessado na íntegra em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0301479720315000.

Texto: Caio Albuquerque (03/12/2020)