Gravidez na adolescência reduz a probabilidade de trabalho formal e rendimentos de mulheres

Versão para impressãoEnviar por email
Estudo realizado na Esalq alerta para as complicações na situação econômica de jovens gestantes (foto: Caio Albuquerque)
Editoria: 

O Brasil é o quarto país do mundo em número absoluto de casos de adolescentes grávidas e está atrás apenas da Índia, Bangladesh e Nigéria. Entre as razões da grande incidência dos casos no país estão os problemas sociais e econômicos da população pobre. Um estudo realizado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) e financiado pela organização sem fins lucrativos PEP (Partnership for Economic Policy) analisou como a gravidez na adolescência pode afetar economicamente a vida de mulheres.

O estudo faz parte de um projeto que examina o impacto da gravidez precoce na educação, alfabetização e no mercado de trabalho em quatro países da África e no Brasil. Ana Lúcia Kassouf, docente sênior do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES), realizou a pesquisa no Brasil. Os dados mostraram que há uma queda de 1.3 anos na escolaridade das mulheres que tiveram filhos com menos de 20 anos e a probabilidade de entrar em um mercado formal reduz em 12 pontos percentuais.

Salário

A pesquisadora observou ainda uma redução em torno de 30% no salário de mulheres que ficaram grávidas durante a adolescência. Em grande parte dos casos, a jovem gestante precisa deixar a escola ou pausar os estudos temporariamente. “Elas acabam em empregos compatíveis com a falta de habilidades, que pagam menos e que não tem nenhum seguro saúde ou ajuda social, o que complica mais ainda a vida dessas mulheres”, disse Ana.

Outra evidência é que os casos são mais frequentes em regiões pobres, em mulheres com baixa escolaridade que, portanto, perpetuam o ciclo de pobreza. “Elas entram em um mercado de trabalho ruim, provavelmente em um setor informal, porque não têm escolaridade, experiência, precisam de uma flexibilidade maior de tempo e precisam da renda”, explicou. A pesquisa traz dados alarmantes e a docente alerta para a falta de políticas públicas e estudos sobre o problema.

Para que o cenário melhore, a docente defende que a discussão sobre sexualidade na escola é essencial para que jovens se conscientizem das complicações que uma gravidez na adolescência pode trazer. Além disso, é necessário atendimento personalizado para que as jovens mães consigam voltar para a escola. “As adolescentes grávidas precisam ter educação, uma forma de passar essas informações para elas, às vezes até na escola, nas famílias, programas de saúde, para que elas tenham ciência da complicação que será uma gravidez precoce”.

Além do quadro econômico, a pesquisadora alerta para as complicações na saúde da mulher. “A principal causa de morte entre meninas de 15 a 19 anos é a gravidez na adolescência, em razão de complicações na gestação e no parto. Além disso, elas são mais expostas a doenças sexualmente transmissíveis e a probabilidade de morte do bebê na primeira semana após o nascimento é 50% maior”, finaliza.

Texto: Letícia Santin | Estagiária de jornalismo

Revisão: Caio Albuquerque

20/12/2019