Desastres naturais impactam as salas de aula e prejudicam o rendimento escolar

Versão para impressãoEnviar por email
O efeito do clima na juventude estudantil ajuda a reproduzir o ciclo de pobreza (crédito: Caio Albuquerque)
Editoria: 

Entre 2009 e 2019 foram registrados mais de 26 mil desastres naturais, o que impactou cerca de 1600 municípios todos os anos. Em 2019, por exemplo, a seca e a estiagem atingiram cerca de 450 mil pessoas no Brasil.

“Os desastres naturais estão aumentando e com isso crescem as perdas humanas e o número de pessoas afetadas. Além disso, o custo causado pelo enfrentamento desses desastres é elevado e esses desastres afetam crianças e jovens, que são bastante vulneráveis”, diz a professora Ana Lucia Kassouf, do departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). (OUÇA O PODCAST)

A professora orientou um estudo que buscou compreender o impacto desses eventos naturais no cotidiano escolar e no rendimento de estudantes do Ensino Fundamental. “Compreendemos o impacto dos desastres naturais sobre o desempenho escolar, mais especificamente a proficiência em Língua Portuguesa e Matemática, além da taxa de aprovação e abandono”, conta a economista Bruna Alves, autora do estudo, defendido no mestrado em Economia Aplicada na Esalq.

A pesquisa elaborou um painel a partir dos dados do sistema integrado de desastres naturais e os indicadores educacionais calculados com uso de microdados disponibilizados pelo Inep.

Clima – Os eventos naturais estão categorizados em climatológicos, meteorológicos, hidrológicos, geológicos e biológicos. Em geral, os eventos climáticos configuram mais de 70% dos desastres naturais ocorridos no Brasil, incluindo estiagem, seca, queimadas, incêndios e mudanças de temperatura. “Esses eventos trazem consequências diretas nos aspectos psicológicos, fisiológicos educacionais dos estudantes. Esse conjunto incide diretamente no aumento da vulnerabilidade econômica, levando os jovens precocemente para o mercado de trabalho e ao abandono dos estudos. Sem falar nos transtornos à própria infraestrutura das escolas”, complementa Bruna.

Para a professora Ana Kassouf, o efeito perverso do clima na juventude estudantil ajuda a reproduzir o ciclo de pobreza. “Muitas crianças começam a trabalhar, abandonam a escola, reduzem o tempo de estudo, o que vai agravar a vida desses indivíduos já que eles terão menor qualificação, um salário possivelmente mais baixo, o que perpetuará o quadro de pobreza já vivido na família”.

De acordo com os resultados, os eventos climatológicos podem reduzir a taxa de aprovação escolar, aumentar a evasão e afetar negativamente a proficiência escolar. “Estimamos aumento de até 0,38 pontos percentuais na taxa de abandono nos anos finais do Ensino Fundamental na região Nordeste. Isso corresponde a 12% do total da evasão observados em 2019. Esses números justificam o estabelecimento dos primeiros passos para novas políticas na área econômica, ambiental, na saúde e na própria educação”.

Pandemia – A economista Bruna Alves atua no Instituto Sonho Grande, onde desenvolve pesquisas para melhorar a qualidade do ensino nas escolas públicas. Diante da pandemia de covid-19, ela relata os problemas causados pelo fechamento das escolas a partir de março de 2020. “ Ainda vivemos um momento difícil. As redes de ensino tiveram que se adaptar ao ensino remoto, mas faltou equipamento, internet adequada e o próprio estabelecimento de uma rotina escolar tornaram-se grandes impeditivos para a qualidade do processo”. Bruna comenta ainda outros fatores que prejudicaram o ensino e aponta uma sugestão para retomada da qualidade no ambiente escolas. “Observamos problemas relacionados a aspectos emocionais, socioeconômicos, que comprometem a motivação e o engajamento desses estudantes. Por isso cremos que a expansão do ensino em tempo integral certamente é uma medida que pode mitigar os efeitos da pandemia, contribuindo para recuperar do processo de aprendizagem e na retenção dos estudantes na escola”, finaliza.

Clique aqui e ouça o podcast Estação Esalq que traz entrevista da professora Ana Lucia Kassouf e da economista Bruna Alves

Texto: Caio Albuquerque ( 23/09/2021)