Cidades mais compactas e mais verdes

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Tese de doutorado pesquisou caminhos para abrigar mais pessoas sem perder cobertura vegetal (crédito: arquivo pessoal da pesquisadora)
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Uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) investigou meios de construir cidades mais compactas, sem perda de cobertura arbórea e com qualidade urbanística aos moradores. A conclusão foi de que apenas verticalizar não é o suficiente, é necessário que as áreas residenciais sejam pensadas a partir da coletividade.

Segundo o estudo, o crescimento urbano horizontal provoca não só o desmatamento de áreas naturais em volta das cidades, mas também eleva gastos com infraestrutura, energia e deslocamentos, além de elevar os índices de poluição e diminuir a qualidade de vida.

Por isso, a tese de Patrícia Mara Sanches surgiu da necessidade de acomodar o número crescente de população de uma forma mais sustentável. A pesquisa foi desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais, com orientação do professor Demóstenes Ferreira da Silva Filho, do Departamento de Ciências Florestais (LCF).

Como solução, o estudo sugere que as edificações sejam pensadas dentro de uma unidade, como de um quarteirão inteiro ou que, pelo menos, a nova edificação estabeleça um diálogo arquitetônico e urbanístico com os outros edifícios que compõe a quadra. O estudo não faz apologia à necessidade de prédios cada vez mais altos, pois “(...) nem sempre a verticalização é sinal de densidade, muito menos de liberar o solo para árvores”, disse a pesquisadora.

Patrícia trabalhou com três estudos de caso em cidades diferentes, São Paulo e Distrito Federal, no Brasil, e Berlim, na Alemanha. “Como elas têm diferentes tipos de desenho urbano, foram ideais para que pudéssemos compará-las e verificar quais tipos de bairros seriam mais eficientes em termos de abrigar mais pessoas sem perder cobertura vegetal”, falou.

Em muitas unidades amostrais em São Paulo, os bairros mais verticais não eram os mais densos e tinham um percentual de cobertura arbórea baixa. Os bairros mais verdes e mais densos foram encontrados em Berlim, com edifícios que não passavam de 7 andares.

“Se começarmos a pensar em diretrizes e em parâmetros de áreas verdes e de densidade na escala da quadra, pelo menos, conseguiremos maior conectividade entre as manchas verdes e resultados muito melhores”, contou a pesquisadora.

Segundo o estudo, a lógica de planejar a cidade na escala da quadra ainda não é recorrente no Brasil, exceto em Brasília (no Plano Piloto), “que foi pensada de uma forma mais macro. O problema é que o planejamento brasileiro continua pensando de forma muito fragmentada, apenas no lote, cada proprietário tem seu lote e segue as regulamentações urbanísticas que são aplicadas individualmente a ele”, disse Patrícia.

A autora da tese conta que espera que os resultados apresentados nesta pesquisa possam influenciar políticas públicas no planejamento de novas áreas urbanas em expansão e revitalização de áreas urbanas consolidadas. “Uma das maiores contribuições da pesquisa foi a elaboração e recomendação de diretrizes e parâmetros de desenho urbano de alto desempenho em termos de áreas verdes, considerando ao mesmo tempo a importância da promoção de cidades mais densas e com melhor qualidade de vida”, finalizou.

A pesquisa foi realizada com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Texto: Letícia Santin | Estagiária de jornalismo

Revisão: Caio Albuquerque

18/02/2020